Pesquisadores detectam genes resistentes a antibióticos em bactérias

Aids matou 14 mil pessoas em 2006 nos Estados Unidos.
No mesmo ano, só uma bactéria resistente matou 18,9 mil.


Pesquisadores das universidades Harvard e de Washington identificaram em bactérias do intestino humano genes que as auxiliam a se tornar resistentes à ação de antibióticos. O estudo, publicado nesta semana na "Science", aponta que a maioria dos genes encontrados apresenta características evolucionárias diferentes das conhecidas pelos cientistas.

A descoberta pode ser mais uma arma no combate ao problema de saúde pública causado, principalmente, pelo uso indiscriminado de antibióticos sem recomendação médica.

De acordo com os pesquisadores, o uso indiscriminado dos antibióticos induziu a mudanças substanciais no comportamento dos microrganismos. Estudos anteriores apontam, por exemplo, a presença de bactérias resistentes à ação da amoxicilina em crianças nunca expostas a tratamento com essa droga.

Quase a metade dos genes resistentes descobertos pela pesquisa é idêntica aos incorporados pela maioria das bactérias analisadas. “As bactérias têm a capacidade de trocar seu material genético”, explica Morten Sommer, pesquisador da Faculdade de Medicina de Harvard e um dos autores da pesquisa. “Durante uma infecção, um patógeno interage com muitas bactérias do corpo humano, resultando na possibilidade de troca genética.”


O estudo começou com a análise de DNA de amostras de saliva e fezes de duas pessoas saudáveis. Em seguida, os pesquisadores constataram um grande reservatório de novos genes que foram inseridos na bactéria Escherichia coli. O resultado foi a resistência do microrganismo a um amplo espectro de antibióticos. “A microflora do intestino humano é um reservatório significativo de genes resistentes que podem ser acessados por microrganismos nocivos à saúde”, diz Sommer.

Ameaça global
As bactérias cada vez mais resistentes à ação de antibióticos se tornaram um problema de saúde pública em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, a agência de saúde pública das Nações Unidas), dos cerca de 9 milhões os casos de tuberculose registrados anualmente, 500 mil são causadas pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também chamada de bacilo de Koch, resistente às drogas.

Enquanto as doenças resultantes da infecção pelo vírus da Aids mataram 14 mil pessoas, em 2006, nos Estados Unidos, no mesmo ano, apenas uma bactéria resistente a antibióticos, o Staphylococcus aureus, matou 18,9 mil americanos.

Para Sommer, a descoberta pode não prevenir o surgimento de bactérias multirresistentes, “mas pode indicar o problema do uso desnecessário de antibióticos”, disse.

Problema controlável
De acordo com o infectologista Antônio Pignatari, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, o problema existe, mas pode ser controlado. “Os antibióticos são extremamente úteis e ainda bem que os temos. O problema é que muitas vezes os pacientes recebem sem necessidade”, afirma. “O difícil é conseguir reconhecer isso, o tempo de uso, a associação de drogas, mas para isso existem protocolos. Quanto mais complexo é o paciente, com mais doenças crônicas, as chances de as bactérias ficarem resistentes nele são maiores.”
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