Cálcio: Importante Arma no Controle da Massa Corporal


Cada vez mais a obesidade tem sido reconhecida como um problema de origem multifatorial, onde estão envolvidos fatores ambientais, nutricionais, fisiológicos e genéticos. Dentro dessa complexidade, inúmeros estudos científicos atuais apontam para fatores cada vez mais específicos, na tentativa de encontrar saídas para esse problema de saúde pública.

Foi durante um desses estudos, que um efeito “antiobesidade” do cálcio proveniente nos laticínios foi observado. Essa investigação demonstrou que a maior ingestão de cálcio (entre 400-1000mg/dia) através da ingestão de 2 copos de iogurte diariamente, produzia diminuição na pressão arterial acompanhado por diminuição de 4,9kg em gordura corporal.

A explicação estaria na atuação dos hormônios calcitróficos (1,25(OH)2D e 1,25(OH)2D3), que respondem a menor ingestão de cálcio e exercem efeitos no metabolismo lipídico, aumentando a lipogênese e diminuindo a lipólise. A ação do hormônio 1,25(OH)2D3 ocorre no receptor do adipócito, onde há inibição da proteína UCP2, responsável pela oxidação lipídica. Sem a oxidação, ocorre a lipogênese e a formação de adipócitos e gordura. O gene agouti é o fator responsável pela lipogênese e o aumento da adiposidade.

No entanto, quando há aumento da ingestão de cálcio, os hormônios do metabolismo do cálcio (1,25 (OH)2D, 1,25(OH)2D3) são suprimidos para controle e feedback negativo. A lipogênese é inibida e a lipólise ocorre. Então, o acúmulo de lipídios é evitado, e a porcentagem de gordura diminui.

Após tais descobertas, foram feitos estudos observacionais, relacionando a ingestão de cálcio e laticínios com a gordura corporal. Esses estudos foram realizados primeiramente em ratos e em seguida em diferentes populações (mulheres jovens, idosas, crianças, intolerantes a lactose e obesos). Os resultados são discriminados a seguir:

- Estudo com dois grupos de ratos, onde um grupo ingeria pouco cálcio e outro ingeria quantidades recomendadas e crescentes de cálcio e laticínios. Os ratos que não ingeriram quantidades necessárias de cálcio sofreram ganho de massa e gordura corporal, enquanto que o grupo de ratos que ingeriram cálcio ou laticínios apresentou perda de massa corporal em 26-40%, sendo que não havia restrição calórica em sua dieta. Notou-se ainda, que a lipólise foi ainda mais estimulada entre os ratos que ingeriram laticínios como fonte de cálcio, comparado com os animais que obtinham cálcio através de suplementos (2).

- Outro estudo indicou uma relação inversa entre ingestão de cálcio e tolerância à glicose. Esse estudo demonstrou que não há perda de massa ou gordura corporal entre intolerantes à glicose, e a razão para tal ainda está sendo estudada (3).

- Um terceiro estudo afirmou que a maior quantidade de cálcio ingerido e prática de exercícios físicos causam um aumento ainda maior na oxidação lipídica. Há estímulo 10% maior comparado com a dieta rica em cálcio mas sem atividades físicas (4).

- Já entre os obesos ou indivíduos acima do peso, notou-se que quem consumia mais laticínios apresentou menor incidência e risco de desenvolver resistência à insulina. Além disso, os indivíduos que participaram do estudo perderam massa corporal e diminuíram sua porcentagem de gordura corporal (5).

- Um estudo mais recente e de maior porte, avaliou os benefícios do cálcio e laticínios no controle da massa corporal. Participaram do estudo 32 indivíduos obesos, que iniciaram o estudo seguindo uma dieta hipocalórica. Aos poucos, foram sendo adicionados à dieta suplementos de cálcio, com quantidade variando entre 400-500mg/dia. Dias depois, a suplementação de cálcio passou para 800mg diários ou a ingestão de 3-4 porções de laticínios todos os dias (equivalente a 1200mg/dia). Todos os indivíduos obesos apresentavam perda de massa corporal cada vez que aumentava a suplementação de cálcio. No entanto, no final de 6 meses, o grupo de pessoas que ingeriram laticínios perderam mais massa corporal do que aqueles que foram suplementados com cálcio. Notou-se, mais uma vez, a maior eficácia dos laticínios na perda e no controle da massa corporal, em dietas hipocalóricas (6).


Qual a região do corpo em que há maior perda de gordura com dietas ricas em cálcio?

Após a realização de um estudo conduzido por Zemel (6), foi observado maior perda de gordura na região do tronco, formada pelo abdômen e peitoral. A perda de gordura nessa região do corpo com uma dieta hipocalórica foi de 19%, e o resultado após a mesma dieta com cálcio suplementado foi de 50%. Houve ainda uma maior perda quando o cálcio foi obtido através da ingestão de laticínios (66%) (6).


Por que os laticínios são mais eficientes do que o cálcio suplementado, quando o objetivo é a perda de massa corporal?

Acredita-se que outros componentes dos laticínios estão também envolvidos nos beneficio atribuído ao cálcio. No entanto, são necessários mais estudos para que essa afirmação seja concreta.

Sabemos, portanto, que a presença de cálcio na dieta, principalmente através da ingestão de laticínios (3-4 porções diárias), gera um efeito “antiobesidade” através de diversas reações, inibindo ou estimulando o metabolismo lipídico. Os diversos estudos observacionais em animais e humanos nos mostram que a perda de gordura e massa corporal são reais e visíveis, cada vez que a quantidade ingerida de cálcio aumenta.

Mais uma vez nos é mostrada a importância do cálcio na nossa dieta, através da ingestão de leite e derivados, que são importantes fontes desse mineral.

Referências bibliográficas:
1. Zemel, MB. Role of calcium and dairy products in energy partitioning and weight management. American Journal of Clinical Nutrition, Vol 79. No 5, 9078-912S, Maio 2004.
2. Zemel, MB; Shi, H; Greer, B; DiRienzo, D; Zemel, PC. Regulation of adiposity by dietary calcium. FASEB J 2000; 14: 1132-8.
3. Buchowski, MS; Semnya, J; Johnson, AO. Dietary calcium intake in lactose maldigesting intolerant and tolerant African-American women. J Am Coll Nutr 2002; 21:47-54.
4. Melanson, EL; Shart, TA; Schneider, J; et al. Relantion between calcium intake and fat oxidation in adult humans. Int J Obes Relat Metab Disord 2003; 27:196-203.
5. Pereira, MA; Jacobs, DR; Van Horn, L; et al. Dairy consumption, obesity, and the insulin resístanse syndrom in young adults. The CARDIA study. JAMA 2002; 287:2081-9.
6. Zemel, MB; Thompson, W; Milstead; et al. Dietary calcium and dairy products accelerate weight and fat loss during energy restriction in obese adults. Obes Res (in press).

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