Novo estudo confirma a possibilidade de uso da via enteral na pancreatite grave

A melhor via de acesso para terapia nutricional em casos de pancreatite aguda grave ainda é sujeita a controvérsias: da conduta baseada no jejum digestivo, buscando o “descanso” do pâncreas, evoluiu-se para o uso de nutrição parenteral do doente com conseqüente redução da mortalidade. Recentemente se propôs o uso também de nutrição enteral na pancreatite aguda, com bons resultados, como demonstrou um trabalho canadense e que conseguiu a redução da inflamação mais rapidamente com a nutrição enteral do que com a parenteral, com menor investimento.

A referida pesquisa foi realizada em três hospitais-escola, que conseguiram reunir 28 doentes com pancreatite aguda grave que preenchiam os critérios de inclusão no estudo, dentro de um universo de mais de 700 enfermos acometidos no período de julho de 1999 a dezembro de 2001. Dos 28 pacientes, 18 foram randomizados para receberem nutrição parenteral e 10, para a nutrição enteral. O objetivo foi verificar qual dos dois tipos de dieta seria capaz de reduzir a inflamação com mais eficácia.

A nutrição enteral custou menos que a parenteral no estudo: “nutrição enteral é mais barata e pelos menos igual à parenteral em termos de eficácia”, declararam os autores. A média de custo para nutrição parenteral foi de $ 2.608 por paciente, comparada com $ 1.086 por paciente em nutrição enteral (p = 0,03, custos em dólar canadense).

“Embora não tenhamos conseguido mostrar de modo significativo que a nutrição enteral atenua a resposta inflamatória na pancreatite, parece que ela também não estimula o pâncreas, e pode ser ótima via de nutrição, já que não tivemos complicações significativas nesse grupo”. A redução da inflamação foi medida pela proteína C-reativa, cuja diminuição em 50% ocorreu cinco dias mais cedo com a nutrição enteral do que com a parenteral (p = 0,08).

A diferença, não-significativa se levado em consideração o nível tradicional de p < 0,05, é explicada pelos autores pelo pequeno tamanho da amostra, que havia sido calculada como de 58 pacientes para maior poder do estudo, mas atingiu apenas 28: “nosso estudo é claramente limitado por seu pequeno tamanho de amostra”, comentam os autores. “Conseguimos incluir apenas metade da amostra inicialmente calculada, e interrompemos o trabalho antes de atingir o tamanho correto porque houve incidência menor do que a esperada de pancreatite grave durante o período. Além disso, tivemos dificuldades com o consentimento dos pacientes em participar, sua identificação correta e troca de membros da equipe participante do estudo. Adoção, integração e uso desta tecnologia devem continuar, mas com conhecimento das limitações de nosso estudo”. Os autores concluem que trabalhos abordando a ocorrência de eventos sépticos na pancreatite em doentes recebendo nutrição enteral são necessários.

Observadores independentes do estudo verificaram que as três mortes ocorridas durante sua realização se deveram à gravidade da pancreatite e não a complicações da nutrição parenteral.


Referência(s)

Louie BE, Noseworthy T, Hailey D, Gramlich LM, Jacobs P, Warnock GL. 2004 MacLean-Mueller prize enteral or parenteral nutrition for severe pancreatitis: a randomized controlled trial and health technology assessment. Can J Surg. 2005;48(4):298-306.
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