Veias preguiçosas

As varizes estampam as pernas de quase 30% dos brasileiros — principalmente mulheres. Entenda por que aparecem em gente cada vez mais jovem e saiba como apagar esses rabiscos na pele.

por PAULA DESGUALDO design EDER REDDER E LETÍCIA RAPOSO foto ALEX SILVA

Já pensou em como é árdua a escalada que o sangue faz da ponta dos pés de volta ao coração? Se para baixo todo santo ajuda, subir a ladeira não é tão simples — veias e músculos precisam trabalhar em equipe para realizar a tarefa com sucesso. Acontece que alguns vasos da perna não aguentam o tranco: perdem o fôlego, relaxam, afrouxam o cinto... pronto! Basta uma pausa prolongada no expediente para que o sangue empaque no meio do caminho. Esses vasos indolentes, que se deixam dilatar, são nada menos que as populares varizes. Antigas conhecidas da mulherada, as marcas inconvenientes têm levado cada vez mais jovens ao consultório. Isso pode estar relacionado a fatores como o sedentarismo crescente, a obesidade, o cigarro e o uso precoce de anticoncepcionais. “Além disso, o acesso ao médico está mais fácil ultimamente”, observa o angiologista e cirurgião vascular Marcondes Antonio Figueiredo, de Uberlândia, no interior de Minas Gerais.

Na verdade, o grande responsável pelas veias tortuosas não está sob o nosso controle. “Em 90% dos casos, o problema é hereditário”, constata Fernando Soares Moreira, angiologista e cirurgião vascular da clínica Steticlin, em São Paulo. Essa tendência pode ser potencializada pelos hormônios femininos, um privilégio das mais moças. Eles deixam as paredes da veia mais flexíveis e, consequentemente, aumentam o risco de dilatação. Por isso até mesmo a pílula, a gravidez e a reposição hormonal aumentam o risco. Na lista dos réus também estão os quilinhos a mais e a falta de atividade física.

“É importante estimular os músculos da panturrilha, que auxiliam no bombeamento do sangue nas pernas”, orienta Priscila Nahas, diretora do Departamento de Fleboestética da Sociedade Brasileira de Flebologia e Linfologia. Embora as marcas apareçam quatro vezes mais em mulheres, os homens não estão livres desse mal — e por motivos semelhantes. Aliás, o número de marmanjos que procuram tratamento para varizes cresce vertiginosamente. “Há 15 anos, eu não atendia um único homem com finalidade estética. Hoje isso é rotina no consultório”, conta Miguel Francischelli Neto, da Clínica Naturale, em São Paulo, e professor do Hospital de Ensino da Santa Casa de Misericórdia de Limeira, no interior do estado.

No fim de um dia de trabalho, as pernas incham e dão aquela sensação de peso e queimação. Esses são sintomas típicos de quem sofre de varizes. “No calor, eles são ainda mais incômodos, porque as veias terminam mais dilatadas”, diz o angiologista e cirurgião vascular carioca Eduardo Fávero. Mas, assim como algumas pessoas simplesmente não sentem nada, os vasos nem sempre ficam aparentes — sim, você pode ter varizes e não enxergá-las. “O desconforto pode ser meramente estético ou causar um comprometimento funcional”, explica o angiologista e cirurgião vascular Edson Amaro Neves, da Clínica Belas Pernas, no Rio de Janeiro. Como o problema tende a evoluir, o ideal é procurar um especialista ao menor sinal de dor sem causa.

Felizmente, novos tratamentos e diagnósticos têm permitido flagrar a doença precocemente, o que evita muita dor de cabeça — e principalmente nas pernas. “O Brasil é referência nessa área”, ressalta o angiologista e cirurgião vascular Kasuo Miyake, da Clínica Miyake, em São Paulo. Se as suas veias já têm uma preferência duvidosa pelo ócio, evite passar muito tempo em pé ou sentado, ponha o corpo em movimento e consulte um médico para checar se uma meia elástica é indicada no seu caso. Cuidados como esses evitam que os vasos tirem férias de uma hora para outra.
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