A importância dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa na gestação e lactação
Os ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa (AGPICL), ácido docosahexaenóico (DHA) e ácido araquidônico (AA) são componentes essenciais não só para o desenvolvimento neurológico quanto para a função visual da criança. O objetivo desta revisão foi buscar estudos recentes sobre a importância desses nutrientes no período gestacional e neonatal. A maior necessidade dos AGPICL ocorre durante a vida intra-uterina e nos primeiros meses de vida. A mãe é um fator determinante na oferta desses ácidos graxos para a criança. O leite materno contém todos os nutrientes necessários para o crescimento e desenvolvimento da criança. O bebê não tem capacidade de elongação e dessaturação dos ácidos graxos e dessa maneira as fórmulas infantis devem conter AGPICL pré-formados.
Palavras-chave: Gestação, Lactação, Lactente, Ácido graxo essencial, Ácido linoléico, Ácido linolênico, Ácido docosahexaenóico, Ácido araquidônico
ABSTRACT
Long chain polyunsaturated fatty acids (LC-PUFAS), docosahexaenoic acid (DHA) and arachinodonic acid (AA) are essential components for both neurological development and visual function of the child. This review focused on recent studies concerning the value of these nutrients during gestational and neonatal periods. The need for (LC-PUFAS) is enhanced during intra-uterine and first months of life. The mother is the principal source of fatty acids to the child. Maternal milk contains all required nutrients for infant's growth and development. Babies do not have the ability to elong and desaturate fatty acids therefore; feeding formulas should contain preformed LC-PUFAS.
Key words: Pregnancy, Lactation, Lactating, Essential fatty acids, Linoleic Acid, Linolenic acid, Docosahexaenoic acid, Arachinodonic acid
Introdução
A importância dos lipídios na nutrição e desenvolvimento humano é reconhecida há muitas décadas. Os ácidos graxos (AG) são constituintes estruturais das membranas celulares, cumprem funções energéticas e de reservas metabólicas, além de formarem hormônios e sais biliares.1 Dentro da diversidade dos AG, existem aqueles que o organismo tem capacidade de síntese, porém outros não. Esses AG cuja biossíntese é inadequada são denominados ácidos graxos essenciais (AGE): ácido linolênico (w-3) e ácido linoléico (w-6). Para suprir a demanda orgânica, os mesmos devem estar em quantidades suficientes na alimentação. Vários estudos apontam que sua utilização traz benefícios para a saúde humana, prevenindo enfermidades cardiovasculares, câncer de cólon, doenças imunológicas e favorecendo o desenvolvimento cerebral e da retina.1-4
O w-6 e o w-3 são considerados precursores dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa (AGPICL): Ácido araquidônico (AA), ácido eicosa-pentaenóico (EPA), e ácido docosahexaenóico (DHA).3 O ácido araquidônico (série w-6) tem grande importância nos primeiros meses de vida, sendo constituinte de estruturas celulares e precursores de mediadores inflamatórios.5 O DHA (série w-3) é considerado o AGPICL mais importante no desenvolvimento neonatal e juntamente com o AA são os principais componentes dos AG cerebrais.1,6 Nos últimos anos, diversos estudos têm investigado a importância dos AGPICL na alimentação do recém-nascido para obter o máximo potencial de desenvolvimento neurológico. Portanto, eles são considerados nutrientes fundamentais para o perfeito desenvolvimento cerebral e visual do bebê antes e após o nascimento.5,7-10 A inquestionável notabilidade dos AGE e de seus derivados estimulou a elaboração desta revisão, cujo objetivo foi buscar na literatura as informações recentes sobre a relação daqueles nutrientes no período gestacional e neonatal. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, utilizando as seguintes palavras-chave: gestação, lactação, lactente, ácidos graxos essenciais, ácido graxo linoléico, ácido graxo linolênico, ácido docosahexaenóico, ácido araquidônico. Para o acesso às bases de dados foram pesquisados os Periódicos Capes, Bireme e MD Consult, no período de 1999 a 2004 tendo sido selecionadas publicações de estudos randomizados.
Importância dos AGPICL durante a gestação e lactação
Gestação
A dieta materna, antes da concepção, é de grande importância, já que ela determina o tipo de ácido graxo que se acumulará no tecido fetal.2,5 O transporte dos AGE é realizado através da placenta e são depositados no cérebro e retina do concepto. Além disso, ocorre um acúmulo simultâneo nas glândulas mamárias durante esta fase.11 O depósito de DHA na retina e no córtex cerebral ocorre principalmente no último trimestre de gestação e nos primeiros seis meses de vida extra-uterina,11,12 podendo se estender até os dois primeiros anos de vida.1,10
O consumo de pescados e a suplementação com óleo de pescados podem reduzir a incidência de parto prematuro e melhorar o peso do bebê ao nascer.2 Além disso, o conteúdo de AGPICL no cordão umbilical se correlaciona diretamente com o consumo destes ácidos graxos pela mãe.7
O feto não tem a capacidade de sintetizar AGPICL através de seus precursores w-3 e w-6, tendo a sua necessidade suprida unicamente pela placenta. Assim como o fígado fetal, esse anexo não tem atividade biossintética de elongação e dessaturação para formar AGPICL. Durante o último trimestre de gestação, a placenta estabelece preferência no transporte de DHA e AA, pelas maiores necessidades.6,13 O aporte dos AGPICL deve ser garantido pelas reservas tissulares da mãe, principalmente do tecido adiposo.1,4
Na gestação há situações que podem alterar o aporte desses ácidos como: nutrição inadequada, consumo de gordura e óleos com alta proporção de w-6 e muito baixo aporte de w-3, o que é muito comum, gestações freqüentes e múltiplas que podem diminuir consideravelmente as reservas de AGPICL.1
Dessa forma, se a mãe receber uma alimentação com um aporte adequado de AGPICL, poderá oferecer ao feto a quantidade necessária desses ácidos para um bom desenvolvimento do sistema nervoso e visual. Além disso, a própria gestação caracteriza-se como um período vulnerável para a deficiência desses ácidos, devendo a gestante ingerí-los em sua dieta para satisfazer não só as necessidades do concepto como também as suas.
Lactação
Após o nascimento, o lactente continua incapaz de sintetizar os AGPICL, devido à imaturidade hepática estar presente. Porém a placenta é substituída pelo leite materno como meio de oferta desses AG.7
Durante a lactância a mãe continua a oferecer o aporte de AGPICL. O leite materno apresenta três vezes mais AA e DHA que o leite de vaca, sendo o segundo insuficiente para atender as necessidades do lactente. Os neonatos mais vulneráveis para desenvolver deficiência de AGPICL são os recém-nascidos pré-termo e os que são alimentados com fórmulas industrializadas sem a presença desses ácidos graxos. Os AGPICL são essenciais em prematuros com pouca reserva lipídica. Pela limitada reserva calórica, os mesmos deverão mobilizar parte dos ácidos graxos para atender suas necessidades quando o aporte exógeno for inadequado. Isso poderá ocasionar transtornos, como: crescimento inadequado, dermatites, aumento da susceptibilidade de infecções, entre outras.6
Os prematuros alimentados com fórmulas enriquecidas com AGPICL apresentaram concentrações elevadas de DHA e AA nos eritrócitos14,15 e no plasma15 quando comparados com aqueles alimentados com fórmulas convencionais (sem adição de AGPICL), mas apresentaram concentrações inferiores em relação aos prematuros alimentados com leite humano.14,15
Comparando a concentração dos AGPICL no cordão umbilical de recém-nascido pré-termo e a termo, Araya et al.16 observaram que as concentrações de AA e DHA foram significantemente menores em pré-termo (p < p =" 0,003).">
Palavras-chave: Gestação, Lactação, Lactente, Ácido graxo essencial, Ácido linoléico, Ácido linolênico, Ácido docosahexaenóico, Ácido araquidônico
ABSTRACT
Long chain polyunsaturated fatty acids (LC-PUFAS), docosahexaenoic acid (DHA) and arachinodonic acid (AA) are essential components for both neurological development and visual function of the child. This review focused on recent studies concerning the value of these nutrients during gestational and neonatal periods. The need for (LC-PUFAS) is enhanced during intra-uterine and first months of life. The mother is the principal source of fatty acids to the child. Maternal milk contains all required nutrients for infant's growth and development. Babies do not have the ability to elong and desaturate fatty acids therefore; feeding formulas should contain preformed LC-PUFAS.
Key words: Pregnancy, Lactation, Lactating, Essential fatty acids, Linoleic Acid, Linolenic acid, Docosahexaenoic acid, Arachinodonic acid
Introdução
A importância dos lipídios na nutrição e desenvolvimento humano é reconhecida há muitas décadas. Os ácidos graxos (AG) são constituintes estruturais das membranas celulares, cumprem funções energéticas e de reservas metabólicas, além de formarem hormônios e sais biliares.1 Dentro da diversidade dos AG, existem aqueles que o organismo tem capacidade de síntese, porém outros não. Esses AG cuja biossíntese é inadequada são denominados ácidos graxos essenciais (AGE): ácido linolênico (w-3) e ácido linoléico (w-6). Para suprir a demanda orgânica, os mesmos devem estar em quantidades suficientes na alimentação. Vários estudos apontam que sua utilização traz benefícios para a saúde humana, prevenindo enfermidades cardiovasculares, câncer de cólon, doenças imunológicas e favorecendo o desenvolvimento cerebral e da retina.1-4
O w-6 e o w-3 são considerados precursores dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa (AGPICL): Ácido araquidônico (AA), ácido eicosa-pentaenóico (EPA), e ácido docosahexaenóico (DHA).3 O ácido araquidônico (série w-6) tem grande importância nos primeiros meses de vida, sendo constituinte de estruturas celulares e precursores de mediadores inflamatórios.5 O DHA (série w-3) é considerado o AGPICL mais importante no desenvolvimento neonatal e juntamente com o AA são os principais componentes dos AG cerebrais.1,6 Nos últimos anos, diversos estudos têm investigado a importância dos AGPICL na alimentação do recém-nascido para obter o máximo potencial de desenvolvimento neurológico. Portanto, eles são considerados nutrientes fundamentais para o perfeito desenvolvimento cerebral e visual do bebê antes e após o nascimento.5,7-10 A inquestionável notabilidade dos AGE e de seus derivados estimulou a elaboração desta revisão, cujo objetivo foi buscar na literatura as informações recentes sobre a relação daqueles nutrientes no período gestacional e neonatal. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, utilizando as seguintes palavras-chave: gestação, lactação, lactente, ácidos graxos essenciais, ácido graxo linoléico, ácido graxo linolênico, ácido docosahexaenóico, ácido araquidônico. Para o acesso às bases de dados foram pesquisados os Periódicos Capes, Bireme e MD Consult, no período de 1999 a 2004 tendo sido selecionadas publicações de estudos randomizados.
Importância dos AGPICL durante a gestação e lactação
Gestação
A dieta materna, antes da concepção, é de grande importância, já que ela determina o tipo de ácido graxo que se acumulará no tecido fetal.2,5 O transporte dos AGE é realizado através da placenta e são depositados no cérebro e retina do concepto. Além disso, ocorre um acúmulo simultâneo nas glândulas mamárias durante esta fase.11 O depósito de DHA na retina e no córtex cerebral ocorre principalmente no último trimestre de gestação e nos primeiros seis meses de vida extra-uterina,11,12 podendo se estender até os dois primeiros anos de vida.1,10
O consumo de pescados e a suplementação com óleo de pescados podem reduzir a incidência de parto prematuro e melhorar o peso do bebê ao nascer.2 Além disso, o conteúdo de AGPICL no cordão umbilical se correlaciona diretamente com o consumo destes ácidos graxos pela mãe.7
O feto não tem a capacidade de sintetizar AGPICL através de seus precursores w-3 e w-6, tendo a sua necessidade suprida unicamente pela placenta. Assim como o fígado fetal, esse anexo não tem atividade biossintética de elongação e dessaturação para formar AGPICL. Durante o último trimestre de gestação, a placenta estabelece preferência no transporte de DHA e AA, pelas maiores necessidades.6,13 O aporte dos AGPICL deve ser garantido pelas reservas tissulares da mãe, principalmente do tecido adiposo.1,4
Na gestação há situações que podem alterar o aporte desses ácidos como: nutrição inadequada, consumo de gordura e óleos com alta proporção de w-6 e muito baixo aporte de w-3, o que é muito comum, gestações freqüentes e múltiplas que podem diminuir consideravelmente as reservas de AGPICL.1
Dessa forma, se a mãe receber uma alimentação com um aporte adequado de AGPICL, poderá oferecer ao feto a quantidade necessária desses ácidos para um bom desenvolvimento do sistema nervoso e visual. Além disso, a própria gestação caracteriza-se como um período vulnerável para a deficiência desses ácidos, devendo a gestante ingerí-los em sua dieta para satisfazer não só as necessidades do concepto como também as suas.
Lactação
Após o nascimento, o lactente continua incapaz de sintetizar os AGPICL, devido à imaturidade hepática estar presente. Porém a placenta é substituída pelo leite materno como meio de oferta desses AG.7
Durante a lactância a mãe continua a oferecer o aporte de AGPICL. O leite materno apresenta três vezes mais AA e DHA que o leite de vaca, sendo o segundo insuficiente para atender as necessidades do lactente. Os neonatos mais vulneráveis para desenvolver deficiência de AGPICL são os recém-nascidos pré-termo e os que são alimentados com fórmulas industrializadas sem a presença desses ácidos graxos. Os AGPICL são essenciais em prematuros com pouca reserva lipídica. Pela limitada reserva calórica, os mesmos deverão mobilizar parte dos ácidos graxos para atender suas necessidades quando o aporte exógeno for inadequado. Isso poderá ocasionar transtornos, como: crescimento inadequado, dermatites, aumento da susceptibilidade de infecções, entre outras.6
Os prematuros alimentados com fórmulas enriquecidas com AGPICL apresentaram concentrações elevadas de DHA e AA nos eritrócitos14,15 e no plasma15 quando comparados com aqueles alimentados com fórmulas convencionais (sem adição de AGPICL), mas apresentaram concentrações inferiores em relação aos prematuros alimentados com leite humano.14,15
Comparando a concentração dos AGPICL no cordão umbilical de recém-nascido pré-termo e a termo, Araya et al.16 observaram que as concentrações de AA e DHA foram significantemente menores em pré-termo (p < p =" 0,003).">
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