Consumidores de chimarrão têm mais chance de ter câncer, diz estudo

Substâncias presentes no chimarrão podem contribuir para o surgimento de câncer de esôfago entre consumidores da bebida, aponta estudo de pesquisadores da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

O trabalho, coordenado pelo professor Renato Fagundes, foi publicado em maio na revista especializada "Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention", da American Association for Cancer Research (Associação Americana para Pesquisa do Câncer).

O chimarrão, feito à base de erva-mate, é tradicionalmente consumido no Sul do país, Uruguai e Argentina.

O câncer de esôfago, segundo o estudo, é a sexta causa de morte pela doença no mundo e a quarta em países em desenvolvimento. O Rio Grande do Sul, com Uruguai e Argentina, está entre as regiões do globo com maior incidência de câncer de esôfago --índice de 9% das mortes totais por câncer.

Na primeira etapa da pesquisa, em 2005, 200 pacientes saudáveis foram divididos em fumantes e não-fumantes. Resíduos de HAP (hidrocarbonetos aromáticos policíclicos) --compostos com potencial cancerígeno-- foram encontrados na urina de fumantes, e também na de não-fumantes que consumiam chimarrão.

"Entre os que fumavam e tomavam chimarrão, o índice era ainda maior", diz Fagundes.

Na segunda parte do estudo, oito marcas de erva-mate foram estudadas, com identificação de alto nível de HAP na bebida após a infusão (quando a água é colocada na cuia).

A cada 12 doses de chimarrão servidas com água fria ou quente, estudiosos detectaram o mesmo índice de HAP existente em um maço de cigarro.

"O risco de câncer era atribuído à temperatura elevada do chimarrão. Agora, observamos na bebida hidrocarbonetos potencialmente cancerígenos, comuns em cigarros", diz.

Fagundes ressalva que, apesar dos indícios, ainda não é possível afirmar que o consumo de chimarrão causa câncer.

"Os compostos do cigarro vão direito ao pulmão. No chimarrão, a bebida é ingerida e não sabemos quais as rotas percorridas por esses compostos. Precisamos de outros estudos. Esses compostos podem ser resultado da poluição ambiental ou da própria manufatura da erva-mate, secada ao fogo com madeira em combustão."

Polêmica

Presidente do Instituto Escola do Chimarrão, sediado em Venâncio Aires (RS) --considerada a capital nacional do chimarrão--, Pedro Schwengber, 56, diz que o produto não faz mal à saúde. "Nunca vi alguém ter problemas por beber chimarrão, mas já vi gente morrer por causa do cigarro."

Schwengber afirma que estudos mostram que o chimarrão contém substâncias que auxiliam no combate ao colesterol, no tratamento contra mal de Parkinson e até contra cáries.

"Quando todos souberem desses benefícios, o mundo vai tomar chimarrão", afirma.
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