Desnutrição ainda é prevalente entre pacientes submetidos à laparotomia


Texto: Rita de Cássia Borges de Castro

Estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostrou que existem diferenças significativas na abordagem nutricional pós-operatória entre pacientes submetidos à cirurgia abdominal de pequeno e grande porte. Os pacientes apresentaram diferenças significativas no estado nutricional e muitos deles ainda são desnutridos.
A nutrição em pacientes cirúrgicos é fundamental e sua importância vem sendo comprovada em diversos estudos randomizados, metanálises e revisões nos últimos anos. No entanto, apesar de sua relevância, a desnutrição ainda é altamente prevalente entre pacientes cirúrgicos e atitudes tanto para diagnosticar e tratar essa condição são subutilizados em muitos centros cirúrgicos, colocando estes pacientes em risco aumentado de complicações pós-operatórias, mortalidade e aumento de custos.

Este estudo foi prospectivo realizado em dois hospitais públicos. Os pacientes foram divididos em 2 grupos: grupo A (submetidos a procedimento de pequeno porte, como correção de hérnia incisional e cirurgia ginecológica) e grupo B (submetidos a procedimento cirúrgico de grande porte, como cirurgia gástrica, intestino delgado e grosso, além de fígado e vias biliares).

O objetivo dos pesquisadores foi avaliar o estado nutricional, a ingestão e tolerância alimentar de pacientes submetidos à laparotomia. Nesse sentido, todos os pacientes foram avaliados nutricionalmente na admissão hospitalar, utilizando avaliação subjetiva global. A ingestão oral e aceitação das refeições foram realizadas diariamente.

Foram incluídos 98 pacientes com idade média de 46,6 ± 13,1 anos. A maioria dos pacientes do grupo A (94,6%) foram diagnosticados como bem nutridos, no entanto, os pacientes do grupo B apresentaram mal estado nutricional, com 40% de desnutrição.

Os pesquisadores verificaram que a dieta oral foi reiniciada no primeiro pós-operatório (PO) dos pacientes do grupo A e a maioria recebeu dieta geral (85,5%). Por outro lado, no grupo B, apenas 4,7% receberam dieta geral no primeiro dia de PO, sendo que 7% receberam dieta branda, 30,2% dieta líquida completa, 27,9% líquidos claros e os restantes 30,2% estavam em dieta zero. Além disso, os pacientes do grupo B progrediram lentamente da dieta líquida para as refeições sólidas e 7% deles permaneceram em dieta zero no quinto dia de PO.

Portanto, os pacientes do grupo A não apresentaram déficits calórico e proteico cumulativo durante todo o período pós-operatório. No entanto, os pacientes do grupo B apresentaram déficits significativamente maiores.

O estudo foi capaz de mostrar que a maioria dos pacientes submetidos a procedimento ginecológico (grupo A) e alguns pacientes do grupo B foram capazes de iniciar a dieta geral com boa aceitação no primeiro dia de PO. “Portanto, por que deveremos esperar pela eliminação de flatos ou fezes para começar a alimentar os pacientes no pós-operatório?”, questionaram os autores.

Segundo eles, por 2 razões:


A primeira é a crença de que se deve aguardar pela resolução da dismotilidade intestinal transitória (íleo pós-operatório).

A segunda é justificada pela possibilidade de que a alimentação precoce aumente o risco de fístulas anastomóticas, mesmo não havendo comprovação para essa associação direta. A cicatrização das anastomoses e as complicações pós-operatórias são diretamente afetadas por diversos fatores, tais como: estado nutricional do doente, uso de drogas imunossupressoras (como corticóides), condições locais do abdômen influenciadas pela presença de inflamação ou de doença neoplásica, fluxo esplâncnico adequado, boa técnica cirúrgica, entre outros. Por outro lado, sabe-se que a nutrição precoce melhora a cicatrização e o fluxo esplâncnico, estimula a motilidade intestinal, diminuindo consequentemente a estase e, reduzindo a incidência de morbimortalidade.

Segundo os pesquisadores, o manejo nutricional do paciente cirúrgico melhorou significativamente nos últimos anos. No entanto, algumas atitudes ainda são muito prevalentes, tais como: falta da avaliação nutricional de rotina, prescrição de jejum prolongado durante o período perioperatório, especialmente nos pacientes submetidos à cirurgia do trato gastrointestinal.

“A realização de avaliação nutricional de rotina em pacientes cirúrgicos é de grande importância, especialmente se eles apresentam doenças gastrintestinais e câncer”, argumentam os autores.

“Por isso, o trabalho em conjunto da equipe de terapia nutricional e da equipe cirúrgica, sem dúvida, contribui para o melhor atendimento aos pacientes e melhores resultados globais”, concluem.


Referência(s)

Toulson DCMI, Costa FP, Machado CGA. Perioperative nutritional management of patients undergoing laparotomy. Nutr Hosp. 2009 Jul-Aug;24(4):479-84.
Créditos: NutriçãoSadia. Tecnologia do Blogger.