Vegetais mais bonitos nem sempre são os mais saudáveis

Chris Bueno
Especial para o UOL Ciência e Saúde
Bananas amarelas e curvas, pepinos lisinhos e verdes, tomates redondos e vermelhos, cenouras sem nenhum defeito. Somente frutas e hortaliças perfeitas podiam ser expostas nas prateleiras dos mercados europeus até o mês passado. Mas, devido à crise econômica, a União Europeia decidiu relaxar seu rigoroso padrão de beleza e aceitar a comercialização de frutas e hortaliças mais "feinhas".


Agora, bananas retas, pepinos tortos, tomates alongados e cenouras com saliências ganham espaço nos mercados e feiras do continente, gerando um pergunta comum entre os consumidores: esses produtos com aparência estranha podem ser consumidos sem prejuízo à saúde? Nutricionistas e agrônomos garantem que sim.

"É claro que, quando vamos ao supermercado, queremos os produtos mais bonitos, mas os que fogem a esse padrão de beleza são igualmente saborosos e nutritivos", afirma Arlete Marchi Tavares de Melo, diretora do Centro de Horticultura do Instituto Agronômico de Campinas. "O pepino, por exemplo, é uma hortaliça que entorta com facilidade durante o crescimento. Isso não quer dizer que um fruto torto seja impróprio para consumo, pois não está estragado", cita.

As aparências enganam

Segundo a nutricionista Denise Entrudo Pinto, a aparência de um vegetal não é sinônimo de mais vitaminas. "O que interfere no valor nutricional é o meio de cultivo, o tipo de solo, a quantidade de agrotóxicos e fertilizantes e o modo de preparo", explica.

A nutricionista também alerta para o fato de que nem sempre o mais bonito é o melhor - ou mais saudável. Frutas e hortaliças orgânicas em geral são mais feias por terem o uso de agrotóxicos limitado, o que faz os vegetais sofrerem mais com a ação dos insetos e ganharem uma casca menos atraente.

"Dificilmente você consegue produzir uma hortaliça linda aos olhos sem usar defensivo agrícola. Mas o contrário não é verdadeiro. Às vezes, nem com o uso o produto fica com a aparência desejada", afirma Melo.

A pesquisadora afirma que, mais importante do que valorizar a aparência do produto agrícola, é saber sua procedência. Se a forma de cultivo for adequada, respeitando o limite e o período de carência do uso de agrotóxicos, então não há perigo para o consumo. "É muito importante respeitar esse intervalo de segurança entre a última aplicação e a colheita, para garantir que o alimento colhido não possua resíduos acima do limite máximo permitido", relata.

Como escolher e limpar?

Se as aparências enganam, então como escolher um produto corretamente? "Escolha vegetais frescos, com coloração característica e sem partes amassadas ou furadas", explica Entrudo.

É importante, também, realizar uma boa higienização desses alimentos antes de consumi-los. Isso garante que as impurezas e resíduos sejam retirados. "Lave-os em água corrente, retirando a sujeira com uma escovinha própria. Prepare uma bacia com água clorada e deixe por 20 minutos. O vinagre e sabão não devem ser utilizados para higienização", ensina a nutricionista.

Melhoramento genético

Muitos dos produtos que consumidos hoje são bastante diferentes de como eram em sua origem. Um exemplo disso é o morango, uma frutinha que nascia espontaneamente nas montanhas europeias. Com o começo de seu cultivo por horticultores franceses e ingleses, o morango teve seu tamanho aumentado através do processo de seleção e cruzamento das melhores plantas.

"O melhoramento dos produtos agrícolas é feito há muitos anos, selecionando-se as melhores e mais desejadas características de cada planta e fazendo o cruzamento para obter resultados cada vez melhores", explica Melo.

Atualmente, essa antiga técnica é feita com avançados recursos tecnológicos, proporcionando produção maior, tamanho, qualidade e também maior resistência a pragas e condições climáticas adversas.

O uso de defensivos agrícolas (pesticidas e agrotóxicos) também contribuiu para que muitas das hortaliças e frutas consumidas hoje sejam maiores e mais bonitas do que as de algumas décadas atrás.

Com todos os recursos disponíveis para a alteração genética e o desenvolvimento dos transgênicos, tudo indica que frutas, verduras e legumes ainda vão mudar bastante. Já existem experimentos com morangos que receberam um gene de um peixe do ártico, que ajudaria a frutinha a resistir melhor ao frio. "A tendência, agora, é tentar modificar geneticamente alguns alimentos em algum nutriente para uma função fisiológica específica, com benefícios para a saúde", aponta Melo. Mas tudo isso ainda está em teste.
Créditos: NutriçãoSadia. Tecnologia do Blogger.