Casos de anorexia entre idosas quase triplicam na Europa
A anorexia está conseguindo chegar a terceira idade?
Um estudo médico espanhol constatou que, em uma década, os casos de anorexia quase triplicaram entre a população europeia com mais de 65 anos. O estudo apresentado no 9º Congresso Nacional de Organizações de Idosos da Espanha diz que o índice de mulheres europeias com mais de 60 anos com anorexia passou de 1,8% a 5% nos últimos 10 anos. O aumento é similar ao da população adolescente. Os casos detectados de jovens entre 13 e 18 anos com anorexia e bulimia subiram de 2,4% para 7% na década.
"São transtornos próprios da civilização que vivemos e os idosos estão expostos às mesmas situações que outros grupos com bombardeios de publicidade e pressão social", disse à BBC Brasil a diretora da Unidade de Transtornos Alimentares do Hospital de Alicante, Taciana Valderde, uma das autoras do estudo. "Cada vez há mais pessoas idosas socialmente ativas. A expectativa de vida aumentou e há uma melhora significativa da qualidade de vida, mas também vemos uma grande dificuldade de aceitação de certas limitações e da deterioração da aparência, o que dá origem a estes graves desajustes emocionais."
Pressão e solidão
Os especialistas espanhóis indicam várias razões para o problema entre idosos, entre elas a pressão social por se manter eternamente jovem dentro dos padrões de beleza impostos pela moda, a a solidão, o estresse e a tendência a sofrer doenças degenerativas. Segundo o estudo distribuído a cinco mil especialistas no Congresso que se reúne esta semana em Sevilha, 70% das mulheres europeias com mais de 65 anos se sentem descontentes com seu aspecto físico e estariam dispostas a fazer sacrifícios para melhorar. Este caminho pela melhoria física é entendido como uma tentativa de se voltar atrás no tempo e recuperar a beleza de décadas passada ou permanecer eternamente jovem.
Para os médicos, as frustrações produzem depressões que podem acabar em perda de apetite ou compulsão alimentar. Quando vivem sozinhos, segundo os especialistas, a vulnerabilidade é maior. O falecimento do cônjuge, a distância dos filhos e o início dos processos degenerativos podem facilitar o surgimento de transtornos alimentares. "Quando você abre a sua geladeira e só encontra um pedacinho de queijo e dois ovos, aí está aparecendo o problema”, disse à BBC Brasil a nutricionista Teresa Añón, diretora do Instituto de Medicina Avançada de Valencia e participante do congresso de Sevilha.
Homens
A nutricionista afirmou que tratar o transtorno alimentar dos mais velhos é mais difícil do que o dos jovens por causa das doenças associadas ao envelhecimento. Segundo o estudo, o número de casos de transtornos alimentares entre as mulheres é maior do que nos homens, mas a diferença está diminuindo principalmente pelo aumento da incidência de casos entre homens gays. Considerando as previsões demográficas da ONU que indicam que a Espanha será o país mais velho do mundo em 2050, o presidente da Confederação Espanhola de Organizações de Idosos e do Congresso de Sevilha, José Luis Méler, disse à BBC Brasil que "o mundo precisa de uma cultura de envelhecimento".
"Porque chegar a idades avançadas ativo e com saúde é um privilégio. Por isso o lema deste congresso é a 'arte de envelhecer'. Entendemos que viver a passagem do tempo de uma maneira positiva é uma ferramenta fundamental".
BBC Brasil
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