Pimenta – Qual sua importância para a alimentação?

Cultivadas no Peru e México desde tempos pré-históricos, foram descobertas nas Caraíbas por Cristóvão Colombo. Diego Alvarez Chanca, médico a bordo da segunda expedição de Colombo de 1493, embarca as primeiras plantas de Capsicum rumo a Espanha, onde em 1494 escreve sobre os efeitos medicinais observados destas plantas.

Texto Adaptado por: Vinícius Graton
Tema sugerido por: "juliasalgueiro" by Twitter

Você conhece a Capsaicina?

Capsaicina é um carotenóide presente na pimenta. É ela a responsável pelo estímulo e liberação de vários neutransmissores, incluindo a substância P, presente nas terminações nervosas trigeminais. O uso contínuo da capsaicina leva à depleção da substância P; sem ela, os sinais de dor não podem ser eficientemente transmitidos. Há estudos que a relacionam com atuação sobre a agregação plaquetária. Seu uso é aprovado pela Food And Drug Administration (FDA) e já existem medicamentos elaborados a partir da capsaicina.

Pesquisas
Um estudo avaliou a aplicação nasal de um preparado à base de capsaicina durante sete dias em pacientes portadores de cefaléia. Sete dos 10 pacientes apresentaram melhora da dor. Em concordância com o mecanismo de ação, a aplicação em apenas uma narina levou à redução da dor apenas no lado correspondente. (WINTERS, J., BEVAN, S., CAMPBELL, E.A. Capsaicin and pain mechanisms. Br. J. Anesth., v.75, p. 157-168, 1995).

A aplicação de um componente-chave da pimenta malagueta, ou chili, seguida por um anestésico local, pode representar o fim da dor na cadeira do dentista e na mesa de cirurgia, sem os efeitos colaterais potencialmente perigosos e o estado letárgico que vem depois de uma anestesia tradicional. De acordo com um estudo da Harvard Medical School, publicado na revista “Nature” esta semana, uma combinação de capsaicina (o ingrediente responsável pelo ardor característico da pimenta) e QX-314, um derivado da lidocaína (anestésico local usado por dentistas e também para aliviar inflamações ou coceiras na pele) silencia com sucesso os neurônios sensíveis ao estímulo doloroso, sem perturbar outras células nervosas que controlam as funções motoras e outras sensações. Sabe-se que o QX-14 reduz a atividade dos neurônios sensíveis ao estímulo doloroso no sistema nervoso e teoricamente aumenta a resistência à dor. Mas há um porém: os pesquisadores descobriram que “o QX-14 não funciona fora de um neurônio, apenas dentro dele”, reconhece Bruce Bean, professor de neurobiologia na Harvard Medical School e co-autor do estudo.


Pimenta inspira anestésico que não paralisa

Ficar o tempo todo consciente e com capacidade de movimento durante uma cirurgia complicada? Fácil: é só colocar um pouquinho de pimenta no anestésico. Parece um absurdo, mas é o que uma equipe de pesquisadores americanos parece ter conseguido em experimentos com ratos. Ao combinar uma molécula hoje usada apenas para experimentos com neurônios e o "princípio ativo" da pimenta vermelha, que produz a sensação de ardor do condimento, eles podem ter criado uma nova geração de anestésicos, que bloqueiam apenas a dor, sem afetar o resto do sistema nervoso.

A pesquisa, capitaneada por Clifford Woolf, do Hospital Geral de Massachusetts (Costa Leste dos EUA), está na edição desta semana da revista científica "Nature" . Aliás, faz todo sentido que a equipe de Massachusetts tenha conseguido esse feito, já que o hospital americano foi o primeiro do mundo a realizar uma anestesia geral com éter, em 1846.

No entanto, passado um século e meio de uso da técnica, ela continua funcionando mais ou menos da mesma maneira. Os anestésicos funcionam bloqueando a passagem de sinais químicos em todos os neurônios do corpo ou da região que recebeu anestesia local, de forma indiscriminada. O único jeito de mudar isso seria desativar apenas os neurônios ligados à sensação de dor -- e aí é que entra a pimenta-vermelha.

O que acontece é que a capsaicina, a substância do condimento que induz a sensação de dor e "queimadura", afeta de forma seletiva os canais moleculares formados por uma proteína, a TRPV1. Esse tipo de canal só existe na membrana dos neurônios sensíveis à dor e funciona como um condutor de mensagens, indicando às células a presença do estímulo doloroso. A capsaicina da pimenta-vermelha força esses canais a se abrirem.

Os pesquisadores injetaram nos ratinhos de laboratório uma mistura de capsaicina e de um tipo de anestésico o qual, normalmente, só funciona quando é injetado diretamente dentro dos neurônios. Acontece que, dessa vez, a capsaicina enfiou o pé na porta e deixou a passagem livre para esse anestésico, por assim dizer -- ele entrou com facilidade nos neurônios. Mas só nos neurônios sensíveis à dor: tanto que os roedores continuavam respondendo ao toque e andando normalmente, embora não sentissem mais os estímulos dolorosos.

Ainda falta muito trabalho antes que a idéia possa ser aplicada em humanos -- é preciso achar uma formulação que não cause ardência inicial, como a pimenta faz, por exemplo. Mas os pesquisadores se dizem confiantes de que isso vai ser possível em breve.



Seus Benefícios

Os benefícios da pimenta são conhecidos há muito tempo. Nas Américas, o fruto já era usado até para aliviar dor de dente e de estômago. Isso há pelo menos dois mil anos.

Podemos dizer então que o hábito de se implantar a pimenta no nosso dia-a-dia é algo fundamental para a saúde. Quem coloca a pimenta no dia-dia está levando, além de tempero, uma série de medicamentos naturais: analgésico, antiinflamatório, xarope, vitaminas – benefícios que os povos primitivos descobriram há milhares de anos que agora estão sendo comprovados pela ciência.


Problemas Cardio-Vasculares

Uma pesquisa recém-concluída na Faculdade de Nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) comprovou que a pimenta diminui mesmo o risco de doenças cardiovasculares, maior causa de mortes no Brasil.

Por duas semanas, um grupo de ratinhos recebeu, todos os dias, uma pequena dose de extrato de pimenta-dedo-de-moça, a mais consumida no país. No fim do período, sangue foi coletado e comparado com o de ratinhos que não receberam a pimenta. O resultado impressionou os pesquisadores.

“Nós tivemos uma redução bastante significativa, em torno de 45%, do colesterol total desses animais. Uma redução do colesterol total, tanto em humanos quanto em cobaias, mostra que há um risco menor do desenvolvimento de doença arterial coronariana ou aterosclerose”, diz a nutricionista da PUC-RS Márcia Keller Alves.

Em outras palavras: menor risco de enfartes. O que reduziu quase pela metade a gordura do sangue nos ratinhos foi a capsaicina, o princípio ativo da pimenta, que dá a ela o gosto ardido.

“É esse princípio ativo que faz com que a pimenta seja benéfica à saúde. Então, quanto mais picante mais capsiacina. E quanto mais capsiacina mais benefícios com o consumo da pimenta”, esclarece Márcia Keller Alves.

A capsaicina atua em várias áreas do corpo: alivia dores de cabeça, controla os níveis de glicose no sangue, aumenta a capacidade pulmonar e ajuda no tratamento da rinite alérgica. É até um aliado para quem quer entrar em forma.

“É uma substância estimulante do metabolismo. A pessoa passa a gastar mais calor através do que come. Então, isso ajuda na obesidade. Ela só vai se beneficiar com um ingrediente natural”, afirma o nutrólogo Carlos Alberto Werutsky.

Ainda falta determinar quanto é necessário consumir para que a pimenta traga todos esses benefícios. O que se sabe é que o brasileiro come muito pouco. Na Tailândia, por exemplo, ela é a estrela das receitas simples e sofisticadas. Lá, o consumo chega a dez gramas por dia. No Brasil, não passa de meio grama por pessoa.

Para que a pimenta saia do papel de coadjuvante e se torne o ingrediente principal, é preciso pegar o fruto e inventar. Criar receitas que agradem não só a quem procura a ardência, mas também – por que não?

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