O Feijão na Alimentação do Brasileiro
O feijão comum (Phaseolus vulgaris, L.) é a leguminosa mais consumida no Brasil, sendo considerado o ingrediente-símbolo da gastronomia brasileira. Junto com o arroz, forma a base da nossa alimentação e contribui significativamente como fonte de proteína e caloria.
Não há um consenso sobre a origem do feijão, mas há, no entanto, o senso comum de que realmente a origem do feijoeiro é o continente americano. Na Ásia, na África e na Europa existem variedades consideradas secundárias.
O feijão é um excelente alimento, muito rico nutricionalmente, pois fornece nutrientes essenciais ao ser humano, como proteínas, ferro, cálcio, magnésio, zinco, vitaminas (principalmente do complexo B), carboidratos e fibras.
Na alimentação dos brasileiros, o feijão é a principal fonte de proteína, seguido, em importância, pela carne bovina e pelo arroz. Apenas esses três alimentos básicos contribuem com 70% da ingestão protéica, além de ser uma cultura de grande expressão sócio-econômica no Brasil (Machado, Ferruzzi & Nielsen, 2008). A importância alimentar do feijão deve-se, especialmente, ao menor custo de sua proteína em relação aos produtos de origem animal (Mesquita et al, 2006).
Dentre os componentes do feijão, destacam-se principalmente os compostos fenólicos, substâncias antioxidantes vinculadas a um menor risco no desenvolvimento de alguns tipos de câncer e a uma menor incidência de doenças degenerativas (Machado, Ferruzzi & Nielsen, 2008); a isoforma 1 do inibidor da alfa-amilase, que apresenta potencial efeito no combate à obesidade e no tratamento adjuvante do diabetes (Obiro, Zhang & Jiang, 2008); e as fibras solúveis que, depois de ingeridas, se transformam em gel, permanecendo mais tempo no estômago, o que acarreta uma maior sensação de saciedade. Tal “gel” atrai as moléculas de gordura e de açúcar, que são eliminados pelas fezes, ajudando assim, a reduzir os níveis de colesterol e glicemia do sangue.
O consumo em quantidades média a alta de feijão está sendo associado a diminuição de riscos para outras doenças como o diabetes, doenças cardiovasculares e até mesmo neoplasias. Acredita-se que esse efeito benéfico do consumo do feijão é devido à presença de metabólitos secundários nessa leguminosa, os fitoquímicos, principalmente os compostos fenólicos e os flavonóides.
Este alimento apresenta, porém, um problema: suas proteínas têm valor nutricional pouco inferior ao apresentado pelas carnes, o que é decorrente do teor e biodisponibilidade reduzidos de aminoácidos sulfurados (Evans & Bauer, 1978; Antunes & Sgarbieri, 1980; Fukuda et al., 1982), principais aminoácidos que participam da síntese protéica (Geraldo, 2006); entretanto, quando combinado com arroz, por exemplo, forma uma mistura de proteínas mais nutritiva. Isto porque o arroz é relativamente rico em aminoácidos sulfurados (Mesquita et al, 2006).
Na análise do consumo de feijão no Brasil, primeiramente deve-se ressaltar que, apesar de importante, o feijão tem merecido pouca atenção. O consumo médio per capita de feijão na década de 1960 foi de 23 kg/habitante/ano, enquanto nas décadas de 1970, 1980 e 1990 foi, respectivamente de, 20, 16 e 17 kg/habitante/ano. Por outro lado, enquanto no período de 1974 a 1975, o consumo metropolitano per capita foi de 16,5 kg/ ano, o consumo rural foi quase o dobro, 32 kg/ ano.
Alguns estudos mostram que o processo de urbanização explica mais da metade da redução no consumo do feijão no período compreendido entre meados da década de 1970 e final dos anos 80. De acordo com o senso 2000, cerca de 81% da população brasileira estava concentrada nas cidades, que abrigam 137 milhões de pessoas. Entre outros fatores, essa rápida urbanização, associada à acentuada inserção da mulher no mercado de trabalho, provocaram um efeito acentuado nas mudanças do hábito alimentar da população e originaram novas demandas quanto à qualidade, apresentação, facilidade e menor tempo de preparo dos alimentos. Outros estudos indicaram que, no período de 1974 a 1988, a redução no consumo de feijão deveu-se à mudança no hábito alimentar e não ao fator preço, afirmando que a renda per capita explicava apenas pequena parcela da variação. Comparando-se esses resultados, concluiu-se que, no período de 1974 a 1988, o decréscimo do consumo de feijão foi menor nas metrópoles do que a média geral no país.
Os economistas afirmam que à medida que a renda do consumidor aumenta o consumo do feijão diminui. Por sua vez, outros afirmam que ocorreu um crescimento do preço real do feijão em comparação a outros alimentos. Outros ainda apontam a dificuldade de preparo caseiro e o tempo de cozimento que se contrapõe à necessidade de redução do tempo de trabalho doméstico. Além disso, há maior número de pessoas fazendo suas refeições fora do lar e a substituição do feijão por outras fontes de proteína, principalmente as de origem animal.
As Américas apresentam 43,2% do consumo mundial, seguidas da Ásia (34,5%), África (18,5%), Europa (3,7%) e Oceania (0,1%). Os países em desenvolvimento são responsáveis por 86,7% do consumo mundial (EMBRAPA, 2004). Seguem abaixo as formas de utilização do feijão nas diferentes regiões brasileiras e o seu valor nutricional:
Utilizações por região:
Estado | Tipo de feijão | Preparação |
Bahia | Feijão fradinho | Acarajé |
Ceará | Feijão de corda | Baião-de-dois |
Rio de Janeiro | Feijão Preto | Feijoada |
São Paulo | Feijão carioca ou mulatinho | Virado à Paulista |
São Paulo | Feijão azuki | Doces e feijoada vegetariana (colônia japonesa) |
Minas Gerais | Feijão preto | Tutu a mineira |
Minas Gerais | Feijão Jalo | Feijão tropeiro |
Paraná | Feijão cavalo | Salada de feijão cavalo |
Santa Catarina | Feijão branco | Cozido com joelho de porco |
Pará | Feijão fradão | Feijão fradão com vinagrete, farofa, arroz e peixe no espeto. |
Pantanal | Feijão rosinha | Feijão a moda do Pantanal |
Composição nutricional do feijão (por 100g):
| Feijão – preto | Feijão-carioca |
Calorias | 77 cal | 76 cal |
Proteínas | 4,5 g | 4,8 g |
Lipídeos | 0,5 g | 0,5 g |
Colesterol | 0,0 mg | 0,0 mg |
Carboidrato | 14 g | 13,6 g |
Fibra | 8,4 g | 8,5 g |
Cálcio | 29 mg | 27 mg |
Ferro | 1,5 mg | 1,3 mg |
Potássio | 256 mg | 255 mg |
Fonte: TACO- Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos
Referências Bibliográficas:
MESQUITA, F. R. et al. Linhagens de feijão (Phaseolus vulgaris L.): Composição Química e digestibilidade protéica. Ciênc. agrotec., Lavras, v. 31, n. 4, p. 1114-1121, jul./ago., 2007.
LAJOLO, F. M.; GENOVESE, M. I.; MENEZES, E. W. Qualidade nutricional. In: ARAUJO, R. S.; AGUSTÍNRAVA, C.; STONE, L. F.; ZIMMERMANN, M. J. de O.(Coords.). Cultura do feijoeiro comum no Brasil. Piracicaba: Potafos, 1996. p. 71-99.
MACHADO, C.M.; FERRUZZI M.G.; NIELSEN, S.S; Impacto f the hard-to-cook phenomenon on phenolic antioxidants in dry beans (Phaseolus vulgaris). Journal of Agricultural and Food Chemistry, Washington DC, v.56, n.9, p.3102- 3110, 2008.
OBIRO, W.C. et al. The nutraceutical role of the Phaseolus vulgaris alpha – amylase inhibitor. Brasil, J. Nutr, v.100, n.1, p. 1-12, 2008.
EVANS, R.J., BAUER, D.H. Studies of the poor utilization by the rat of methionine and cystine in heated dry bean seed (Phaseolus vulgaris). Journal of Agricultural and Food Chemistry, Washington DC, v.26, n.4, p.779-784, 1978.
ANTUNES, P.L., SGARBIERI, V.C. Effect of heat treatment on the toxicity and nutritive value of dry bean (Phaseolus vulgaris var. Rosinha G2) proteins. Journal of Agricultural and Food Chemistry, Washington DC, v.28, p.935-938, 1980.
FUKUDA, G., ELIAS, L.G., BRESSANI, R. Significado de algunos factores antifisiologicos y nutricionales em la evaluación biológica de diferentes cultivares de frijol comum (Phaseolus vulgaris). Archivos Latinoamericanos de Nutrición, Caracas, v.32, n.4,
p.945-960, 1982.
GERALDO, A. Aminoácidos sulfurados, Lisina e Treonina digestíveis para poedeiras comerciais leves em pico de produção. 2006. 188f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais, 2006.
EMBRAPA – EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Feijao/FeijaoIrrigadoNoroesteMG/index.htm. Acesso em 15/09/2008.
MINISTÉRIO DA SAÚDE –
http://dtr2004.saude.gov.br/nutricao/documentos/doc_obesidade.pdf. Acesso em 12/09/2008.
Site: http://www.cifeijao.com.br/index.php?p=historico . Acesso em 12/09/2008.
Site:http://www.faac.unesp.br/pesquisa/nos/bom_apetite/nutricao/fibras.htm. Acesso em 12/09/2008.
Site: http://bibtede.ufla.br/tede//tde_busca/arquivo.php?codArquivo=451. Acesso em 12/09/2008.
Post a Comment