Transtornos Alimentares - Como ajudar pacientes a superarem este desafio?
Transtornos Alimentares
Texto redigido por Vinícius Graton - Nutricionista.
O termo anorexia nervosa tem origem grega, que significa falta de apetite (na/orexis). As pacientes anoréxicas, no entanto, não sofrem de falta de apetite, a não ser no final da doença. O que pode existir é um controle sobre a fome em que se preconiza a baixa ingestão de alimentos (ou mesmo o jejum) com o intuito de emagrecer.
Em 1979, o mesmo pesquisador que descreveu o primeiro caso de uma jovem caquética com anorexia, descreveu agora uma variação da doença em que havia agora o envolvimento da expulsão contínua de alimentos, caracterizando-se por vômitos recorrentes e denominando-a então bulimia nervosa. O termo, que também deriva do grego, significa fome de boi (bous/limos).
Uma curiosidade...
A prática do vômito pós-refeição, no entanto, data do império romano, em que havia, nos festins, os vomitoriuns para que as pessoas pudessem se aliviar e depois continuar se servindo dos banquetes. Naquela época, o poder e a riqueza estavam diretamente associados aos quilos do peso corporal. Dessa forma, os transtornos alimentares são descritos hoje como distúrbios patológicos, em que há o envolvimento dos aspectos psicológicos, emocionais, cognitivos, fisiológicos e alimentares, levando o indivíduo a apresentar uma imagem corporal distorcida da realidade. Ocorre freqüentemente um engano quanto à percepção do formato do corpo, os pensamentos se tornam voltados para a magreza, na busca de um peso corporal sempre abaixo daquele preestabelecido. Nesse momento, a paciente busca a prática intensa de exercícios físicos e faz uso abusivo de laxantes, diuréticos e medicamentos para emagrecer, além de poder provocar o vômito após a refeição (episódio bulímico ou binge eating), podendo jejuar ou mesmo consumir dietas restritivas em termos de calorias.
Anorexia Nervosa
Para uma jovem apresentar sinais que definam o diagnostico de anorexia nervosa, é fundamental que ela se recuse a manter seu peso corporal dentro do considerado ideal, apresentando, então, menos de 85% de adequação do peso ou um déficit de 15%. Além disso, deve haver ausência da menstruação, após a menarca já ter ocorrido, pois um período maior que três ciclos consecutivos.
Pela CID-10, há a existência de que o indivíduo apresenta um Índice de Massa Corporal (IMC) de 17,5kg/m² ou menos, considerando como sendo abaixo do normal. Também é preciso afastar a hipótese de outras doenças que podem provocar aumento no consumo calórico, como hipertireoidismo, diabetes mellitus descompensado e a própria adolescência, além de outras em que há diminuição da ingestão alimentar por anorexia propriamente dita, como neoplasias, vírus da imunodeficiência humana e doença pulmonar obstrutiva crônica. Temos ainda de citar os fatores biológicos, as desordens afetivas (individuais e familiares) e fatores sociais nos quais podem ser descritos com processos envolvidos na fisiopatologia dos transtornos alimentares.
É preciso se ter cuidado, pois o maior equívoco fisiológico que pode ocorrer em pacientes com desordens alimentares é tentar distinguir a fome da saciedade. Muitas vezes, a fome já foi saciada, mas a vontade de comer, não. Em outras, a fome ainda existe, mas, por um controle individual, a paciente não ingere alimentos. É importante lembrar que anoréxicas, mesmo ainda sentindo fome, ainda assim realizam restrição alimentar sobre grande rigor, buscando emagrecer.
Por outro lado, temos as bulímicas que podem chegar a ingerirem até 5.000kcal em um certo período do dia. A compulsão é tamanha e tão rápida que pode provocar o empanturramento gástrico e mal-estar. Estes processos ainda vêem seguido de culpa, medo e vergonha por não ter conseguido se controlar e pela sensação de fracasso, que gera ansiedade e novamente a compulsão.
Um Problema Multifatorial
Os distúrbios alimentares sinalizam ser de causa multifatorial ligada ao descontrole entre fome e saciedade, neurotransmissores e fatores externos, como o envolvimento emocial do doente. Na bulimia nervosa, pode ocorrer diminuição do hormônio serotonina e na anorexia nervosa, produção aumentada de cortisol, havendo desregulação dos sistemas hormonais e do metabolismo.
Terapia Nutricional
A Terapia Nutricional é primordial no tratamento destes pacientes, cabendo ao nutricionista o tratamento nutricional visando melhor condições físicas e estado geral do doente, que muitas vezes encontra-se altamente debilitado, promovendo ganho de peso gradual. As consultas ao nutricionista são recomendadas pela American Dietic Association (ADA) e pela Associação Americana de Psiquiatria (APP), e têm como objetivo realizar educação nutricional e informar a paciente sobre o conteúdo de nutrientes contido nos alimentos (e não somente sobre calorias) e propor um plano alimentar individualizado, consolidado e seguro, levando a modificações do comportamento alimentar e ao aumento de peso. Outro importante papel do nutricionista está em ajudar as pacientes a suspender as restrições e/ou orgias alimentares, muitas vezes indo ao supermercado junto com as adolescentes ou com seus pais, e participar de almoços ou jantares em família para que seja observada a dinâmica na hora das refeições. Um local tranqüilo, tempo estipulado para alimentação, pratos adequadamente preparados por outras pessoas e proibição de alimentos que possam disparar a compulsão são técnicas recomendadas e observas pelo nutricionista durante as visitas domiciliares e o processo de educação.
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