Constipação Intestinal
Andrade et al (2003) definem a constipação intestinal como sendo um distúrbio com base em diferentes parâmetros fisiológicos de defecação, incluindo a freqüência das evacuações, o peso das fezes, o tempo de trânsito, o esvaziamento retal e o conteúdo de água das fezes, que, contendo menos do que 75% de água, são endurecidas e não moldáveis.
Clinicamente, o sintoma da constipação significa menos do que três evacuações por semana com sintomas ou dificuldade no esvaziamento retal. Entretanto, o peso individual das fezes correlaciona-se melhor com o tempo de trânsito do que com a freqüência das evacuações, e muitos pacientes mesmo com severas queixas de constipação tem um trânsito global do intestino grosso normal (Andrade et al, 2003).
A constipação intestinal é um sintoma muito comum. Sua elevada incidência está freqüentemente associada à dieta inadequada, sedentarismo, medicamentos, alterações endócrinas e metabólicas, além de doenças colônicas, neurológicas, distúrbios psiquiátricos e causas idiopáticas (Cruz et al, 1990).
Del Ciampo (2002) criou os seguintes critérios para a determinação da constipação intestinal:
Critérios estabelecidos para o diagnóstico de constipação intestinal crônica funcional
Sinais maiores | Sinais menores |
Fezes cilíndricas ressecadas | Volume aumentado |
Fezes fragmentadas | Intervalo entre evacuações maior ou igual a 2 dias |
Eliminação dolorosa | Sangramento |
Eliminação com esforço | Demora a iniciar a evacuação |
Escape fecal |
|
Constipados: Presença de 2 ou mais sinais maiores, ou 1 maior acompanhado de 2 menores, presentes há mais de 1 mês. |
Fonte: Del Ciampo et al, 2002
Há uma variedade de opiniões individuais sobre o que se pode considerar constipação. Alguns se sentem constipados quando não conseguem evacuar diariamente, outros quando as fezes são duras, ou ainda quando a evacuação é dolorosa. A história clínica do paciente são peças-chave para se avaliar a constipação intestinal, sendo que uma boa anamnese é imprescindível (Rodrigues et al, 2004).
A constipação tem-se estabelecido mais freqüentemente em mulheres, principalmente naquelas com inatividade física diária, pouca renda, educação de qualidade inferior, baixo consumo de líquidos e alimentos ricos em fibras (Dukas et al, 2003).
As principais causas da constipação são:
- Motoras: Síndrome do cólon irritável, uso crônico de laxativos, megacólon, alimentação inadequada, lesões neurológicas, sedentarismo, desequilíbrio hidroeletrolítico, fatores psicogênicos, hipotireoidismo e efeito colateral de medicamentos, como antiácidos (com cálcio e alumínio), antiespasmódicos, diuréticos, analgésicos, anticonvulsivantes e antidepressivos (Locke et al, 2000).
- Mecânicas: Tumores benignos e malignos, diverticulite, colite isquêmica e compressão extrínseca. Devem ser consideradas, também, as afecções proctológicas, como fissuras, hemorróidas e proctite, que dificultam a evacuação (Locke et al, 2000).
- Funcionais: É a forma mais comum da constipação em nosso meio. Queixas, com duração de no mínimo 12 semanas, não necessariamente consecutivas, durante o último ano de menos de três evacuações por semana; fezes duras ou sensação de evacuação incompleta em pelo menos 25% das evacuações; dificuldade para evacuar em pelo menos 25% das evacuações e necessidade de manipulação digital para facilitar a saída das fezes (Ambrogini, 2002).
Diferentes abordagens não-medicamentosas (fibras, hidratação, atividade física, hábito intestinal regular, biofeedback, injeção de toxina botulínica, cirurgia) e medicamentosas (laxativos antigos e novos) têm sido propostas para prevenção e tratamento deste problema, tanto em adultos quanto em crianças. Sua eficácia e sua segurança, pouco evidenciadas em estudos controlados, acompanham-se de mitos e concepções inadequadas ao correr dos tempos (COTA & MIRANDA, 2006).
A modificação dos hábitos alimentares, proveniente da ocidentalização e industrialização, tem introduzido um elevado consumo de alimentos refinados desprovidos de fibras alimentares, contidas em maior quantidade em frutas, vegetais e cereais integrais. Por esse motivo, atualmente, existe uma elevada incidência de doenças que eram pouco freqüentes no passado, as chamadas “doenças de civilização”, fazendo parte deste elenco a constipação intestinal (COTA & MIRANDA, 2006).
A ingestão de fibras na dieta, com o aumento do consumo de frutas, vegetais e grãos integrais, é a primeira medida recomendada. Se não se mostra suficiente, um suplemento comercial com fibras pode ser utilizado. A adesão a suplementos com fibras é pequena devido à flatulência, distenção, plenitude e gosto desagradável. Para melhorar a adesão, recomenda-se aumento gradual das fibras por uma a duas semanas (WANNMACHER, 2005).
Outro estudo diz que a adequada ingestão de fibra diminui a prevalência de constipação e outras desordens gastrointestinais, incluindo doença diverticular e câncer coloretal. As fibras aumentam o volume fecal, diminuindo o tempo de trânsito intestinal (SCHAFFER & CHESKIN, 1998).
Os laxativos estão indicados somente quando a adequação dos hábitos alimentares não demonstra diferença significativa de eficácia, sobretudo por longo prazo (WANNMACHER, 2005).
A recomendação dietética de fibras segundo a ADA (Associação Dietética Americana) é de 20-35g/dia ou de acordo com a ingestão calórica, variando de 10 a 13g/dia por 1000 kcal. Porém, os níveis de ingestão de fibras continuam a ser menor do que o recomendado, pois a ingestão usual média relatada é de 14 a 15g/dia (COTA & MIRANDA, 2006).
Na tabela abaixo encontra-se a relação de alguns alimentos e suas respectivas quantidades de fibra alimentar por 100g do alimento.
Concentração de fibra alimentar por 100g do alimento
Alimento (100g) | Quantidade de fibra alimentar (g) |
Alface crespa | 1,2 |
Arroz branco | 0,3 |
Arroz integral | 1,8 |
Banana | 2,6 |
Cenoura crua | 2,8 |
Ervilha | 2,8 |
Farelo de aveia | 15,4 |
Farelo de arroz | 49,69 |
Farelo de trigo | 42,80 |
Feijão | 6,4 |
Goiaba | 5,4 |
Laranja | 2,4 |
Maçã com casca | 2,4 |
Maçã sem casca | 1,3 |
Macarrão integral | 2,8 |
Macarrão comum (ovos) | 1,1 |
Manga | 1,8 |
Tomate | 1,2 |
Repolho | 2,3 |
Rúcula | 1,6 |
Semente de linhaça * | 33,5 |
FONTE: Tabela de Composição Química dos Alimentos da UNIFESP.
* Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos – TACO.
FONTE: RGNUTRI
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