Qual é a ingestão de fibras alimentares pelo brasileiro?

Segundo dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no período de 2002 a 2003, o consumo de fibras pela população brasileira é baixo, acompanhado pela elevada ingestão de gorduras e proteínas (1). Esse padrão do hábito alimentar brasileiro também foi observado por estudo transversal realizado por pesquisadores da Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre. Neste estudo, 722 adolescentes, com idade entre 10 e 19 anos, provenientes da cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, foram envolvidos em pesquisa que buscou determinar o consumo de fibras alimentares entre adolescentes e analisar os fatores de risco do consumo insuficiente desses nutrientes. Para isso, foi realizada coleta de informações sobre o consumo alimentar por intermédio de inquérito alimentar de 24 horas e inquérito de freqüência alimentar. Em seguida, a quantidade de fibra alimentar ingerida foi calculada pelo uso do programa de apoio à nutrição (2).

O estudo apontou que 61,2% da população estudada consomem fibras abaixo do recomendado. Segundo a Associação Dietética Americana (ADA), o consumo de fibras alimentares para adultos deve ser de 20 a 35 g/dia. Para idades entre 2 a 20 anos, a recomendação é de que se acrescente 5 g de fibras à idade. A menor ingestão de fibras foi mais observada nas meninas (meninas = 69% e meninos = 49,7%, p < 0,001) e a média do consumo de fibras foi de 16,9 g pelas meninas e 21,5 g pelos meninos (p < 0,001) (2,3).

Os fatores que determinaram esta condição para os meninos foram: ingestão não habitual de feijão (risco relativo (RR) 2,65; intervalo de confiança (IC) 95% (1,05 - 6,68) e excesso de consumo de lipídeos (RR 2,67; IC 95% 11,23 - 5,83). Para as meninas, os motivos da baixa ingestão de fibras alimentares foram: idade entre 16 e 19 anos (RR 5,33; IC 95% 2,33 – 12,2), consumo não habitual de feijão (RR 3,01; IC 95% 1,44 - 6,53), consumo excessivo de lipídios (RR 1.85; IC 95% 1,01 - 3,37), fazer dieta para perda de peso (RR 2,5; IC 95% 1,1-5,7) e presença de obesidade (RR 2,06; IC 1,04-4,07) (2). “Consumir dieta com proporção de gordura superior a 30% e o consumo não habitual de feijão são fatores fortemente associados ao risco de consumo insuficientes de fibras alimentares”, afirmam os autores (2).

Em outro estudo recente (4), pesquisadores brasileiros constataram que adolescentes com idade entre 10 e 12 anos têm uma dieta pobre em fibras. Participaram deste estudo 4.452 indivíduos do município de Pelotas (RS). O hábito alimentar dos adolescentes foi avaliado por questionário de freqüência alimentar dividido em dois blocos: o primeiro era composto por 15 itens alimentares e visava avaliar o consumo de alimentos ricos em gordura e o segundo bloco composto por 9 itens alimentares, que objetivava avaliar a ingestão de alimentos ricos em fibras. A freqüência de consumo dos alimentos era medida, e indivíduos com pontuação superior a 27 no primeiro bloco foram classificados como adolescentes com dieta rica em gordura; aqueles com pontuação inferior a 20 no segundo bloco eram classificados como tendo dieta pobre em fibras.

A maioria dos jovens estudados (83,9%) consumia dieta pobre em fibras e 36,6% ingeriam gordura demasiadamente (p < 0,05). O nível socioeconômico e a escolaridade materna foram associados com a prevalência de dieta rica em gordura, ou seja, quanto maior o nível socioeconômico e a escolaridade da mãe, maior é o consumo de gordura. Do mesmo modo, a maior escolaridade da mãe foi associada com baixa ingestão de fibras (4).

“Em países mais pobres, à medida que a renda aumenta e a população torna-se mais urbanizada, dietas ricas em carboidratos complexos e fibras dão lugar a dietas mais densamente energéticas, ricas em gorduras e açúcares; além disso, a baixa ingestão de fibras também pode ser explicada pelo baixo consumo de frutas, vegetais e cereais integrais”, explicam os autores (4).

Em 2000, estudo conduzido com 559 indivíduos de ambos os sexos e com idade superior a 20 anos foram selecionados no município de Cotia (SP), para avaliar a ingestão habitual de fibras (5). O consumo médio diário de fibras pela população estudada foi de 24 g, sendo 17 g de fibras insolúveis e 7 g de fibras solúveis. Os homens consumiram mais fibras que as mulheres (29 g contra 20 g respectivamente; p < 0,01). A maioria dos alimentos consumidos continha baixo teor de fibras (< 2,4 g). O feijão foi o único alimento com alto teor de fibras (4,5 – 6,9 g), representando a principal fonte de fibras da dieta habitual desta população (5). “O consumo de fibras alimentares é baixo para a grande parte da população de São Paulo, uma vez que a cultura alimentar dessa região aponta fontes pobres em fibras na dieta habitual”, observam os autores (5).

Embora tenha sido registrada nesses estudos a dificuldade em atingir a recomendação de no mínimo 25 g de fibras diárias, a tabela abaixo mostra como uma dieta variada e equilibrada poderá se aproximar desta recomendação (6-8).

Tabela. Sugestão de consumo de fibras baseado em alimentos comuns à mesa do brasileiro (considerando café da manhã, almoço e jantar) - clique para abrir


Com base nas observações apresentadas, podemos concluir que a dieta habitual do brasileiro é pobre em fibras e rica em gordura. Estimular o consumo habitual de vegetais, frutas, cereais e grãos integrais pode representar uma alternativa para aumentar o consumo de fibras e promover melhora para a saúde humana (9). Se esses alimentos não estiverem presentes diariamente na alimentação, o que ocorre com freqüência, pode-se optar pela adição de suplementos de fibras como parte da dieta.

Thiago Manzoni Jacintho
Biólogo pela Univerdade de Mogi das Cruzes, Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e Pesquisador do Laboratório de Metabologia e Nutrição em Cirurgia (Metanutri – FMUSP - LIM35).

Colaboração:
Camila Garcia Marques - Especialista em Nutrição Clínica pelo Grupo de Apoio de Nutrição Enteral e Parenteral (Ganep) e graduada pela Faculdade de Nutrição da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Camp).

Referências:
1. Pesquisa do orçamento familiar: 2002-2003. Análise da disponibilidade domiciliar de alimentos e do estado nutricional no Brasil. IBGE;Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acessado em 02/10/07.

2. Vitolo MR, Campagnolo PDB, Gama CM. Factors associated with risk of low dietary fiber intake in adolescents. J. Pediatr. 2007;83(1):47-52.

3. Associação Dietética Americana. Health implications of dietary fiber. J Am Diet Assoc 2002;102:993-1000. Disponível em: http://www.eatright.org. Acessado em 30/11/07.

4. Neutzling MB, Araújo CLP, Vieira MFA, Hallal PC, Menezes AMB. Frequency of high-fat and low-fiber diets among adolescents. Rev. Saúde Pública. 2007;41(3):336-342.

5. Mattos LL, Martins IS. Dietary fiber consumption in an adult population. Rev. Saúde Pública. 2000;34(1):50-55.

6. Tabela brasileira de composição de alimentos / NEPA-UNICAMP. Versão II. 2. ed. Campinas, SP, 2006. 113p. Disponível em: http://www.unicamp.br/nepa/taco. Acessado em 02/10/07.

7. Tabela brasileira de composição de alimentos – USP. Projeto Integrado de Composição de Alimentos. Disponível em: http://www.fcf.usp.br/tabela/index.asp. Acessado em 02/10/07.

8. Philippi ST, Latterza AR, Cruz ATR, Ribeiro LC. Pirâmide alimentar adaptada: guia para escolha dos alimentos. Rev Nutr. 1999;12(1):65-80.

9. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: Promovendo a alimentação saudável. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 236p.


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