Cuidado com a mídia e com as informações que são exibidas


Gostaria de fazer uma crítica aos programas televisivos, que abordam a alimentação/nutrição como matéria. O mais assistido sem dúvida alguma vem a ser o "Globo Reporter", na minha opinião um programa ótimo, porém que vem abordando a ciência da nutrição não com o seu devido respeito frente seus telespectadores. Sempre que o assunto abordado é a nutrição, já posso aguardar grandes questionamentos sobre os alimentos exibidos, e são muitas pessoas que fazem das matérias exibidas uma verdade absoluta. O que me fez escrever parte desta matéria foi a última matéria do Globo Reporter, onde exibiu-se uma senhora afirmando que o chá da casca de laranja seca seria ótima para tratar a febre.

É fundamental que não tenhamos uma reação exagerada a cada novo estudo publicado e muito menos quando algo é dito por pessoas sem qualquer respaldo na comunidade científica. Conheço muitas pessoas que não podem ver algo na televisão ou lerem uma revista para já irem seguindo tudo que é falado. Quase nunca se preocupando em consultarem um especialista para avaliarem qual o peso da informação.

É normal que muitos tenham uma visão idealista da ciência, como se cada descoberta fosse a expressão de uma verdade absoluta, na qual é necessário acreditar absolutamente, sem outras provas. Entretanto, é importante que se seja dito em cada matéria, que a ciência funciona exatamente ao contrário desse processo: como tijolos em uma parede, cada estudo, tomado isoladamente, tem pouco valor intrínseco.

É o conjunto das descobertas que dá coerência a um assunto dado. Por exemplo, promover hábitos saudáveis de vida para a prevenção de doenças não é um ato de fé ou uma opinião pessoal.

Trata-se antes de tudo um fato incontestável: milhares de estudos científicos realizados ao longo dos cinquenta últimos anos com moléculas isoladas, modelos animais e também com grandes amostras de população humana permitiram demonstrar que o tabagismo aumenta em mais de 30 vezes (3.000%) o risco de câncer do pulmão, que a obesidade predispõe a muitas doenças crônicas ou ainda que o consumo abundante de frutas e legumes reduz significativamente o risco de vários tipos de câncer.

Assim, existe realmente um consenso científico sobre o fato de que os hábitos de vida são responsáveis por uma grande proporção das doenças que afetam atualmente a população.

Ao contrário, encontramos muitas vezes informações que são, antes de tudo, baseadas em opiniões e não em fatos. Uma opinião é, por definição, algo subjetivo, uma interpretação dos fatos fundada sobre uma crença ou sobre uma visão pessoal, o que - deve-se dizer - não tem nada de científico. Por exemplo, afirmar que a poluição é uma das principais causas de câncer não é uma afirmação científica; é uma opinião pessoal: mesmo que a poluição tenha certamente impactos negativos importantes sobre o nosso ambiente e, por consequencia, sobre a nossa saúde, centanas de estudos mostram que ela é responsável por apenas 2% de todos os tipos de câncer.

"É preciso utilizarmos nosso senso crítico de informações obtidas proveniente de sites comercias que fazem promoção de produtos (suplementos alimentares, extratos naturais, etc.) supostamente aptos para prevenir ou até, em certos casos, para curar doenças tão graves quanto o câncer."

É fundamental que todos nós venhamos a privilegiar as informações confiáveis que vêm de profissionais da saúde reconhecidos, como pesquisadores, nutricionistas e médicos. Então, ao assistir o próximo programa televisivo, ou ao ler uma matéria do jornal ou revista, tenha grande senso crítico da matéria abordada, procure sempre um especialista antes de ir colocando em prática tudo que lemos ou vemos.

Vinícius Graton Costa - nutricionista.
Texto adaptado do livro: A Saúde pelo prazer de comer bem
Créditos: NutriçãoSadia. Tecnologia do Blogger.